A Estratégia é o Confronto by Raphael Sanz

créditos: www.myspace.com/cabecavuduCabeça Vudu é uma banda paulistana que tem mais de 5 anos de existência e faz um rock`n roll de altíssima qualidade, com fortes influências de rap nacional e letras com alto teor político, muito críticas e que, literalmente, apontam o dedo na cara daqueles que merecem.

Apesar de ser amigo dos integrantes desde 2005, ou 2006, a primeira vez que os vi tocando foi no final de 2007, num festival que teve na USP e fiquei em choque com o som deles. É muito bom mesmo! Todas as letras falam de política, e de alternativas a toda essa massa cinzenta que se apresenta a nós.

Em 2008, tocaríamos juntos no Estúdio Noise Terror, no Jabaquara, com a banda de hardcore que eu tinha na época. Isso se a polícia militar não aparecesse para impedir a realização do evento.

A banda é formada por Ferreira no microfone, Diego no baixo, Fi na batera e Thithio na guitarra. Segue abaixo uma breve conversa com Ferreira e Diego sobre a origem da banda e suas influências. E claro, um papo sobre eleições, polícia… confere aí!

Rádio Jacaré – Como que começou a banda?

Diego – Eu e o Ferreira estudamos juntos. Eu sempre toquei violão e o Ferreira sempre curtiu as mesmas músicas que eu. A gente sempre tocou. A galera cantava e ele cantava também. E começou assim, com a galera tocando, daí montamos uma bandinha com os amigos e começou a fluir o som, aí…

Ferreira – Aí foi reformulando, né? Tinham umas seis pessoas nessa época.

Diego – Os caras estavam com outros objetivos e agente continuou fazendo esse som. Daí, na faculdade, conhecemos outros caras que também faziam um som. Nos juntamos com eles e começamos a tocar…e o som começou a fluir.

Ferreira – Juntamos com o Fi e com o Thithio. E o primeiro ensaio foi da hora, já tiramos um Planet Hemp e foi legal. Começou nessas, e em 2005 acho, fim de 2005.

Diego – Mas sem pretensão nenhuma. A gente ensaiava no estúdio de um amigo nosso que também tinha uma banda. Ele curtia o som que a gente fazia, curtia a pegada e aí a gente ensaiava lá na faixa. E era muito firmeza, ele era camaradaço nosso, muito firmeza. Ele começou dando essa força e a gente também começou a ir atrás. Aí, foram aparecendo uns showzinhos e tal…

Ferreira – E a gente tava na mesma pegada, né? Naquela época a gente tava com um lance de rock com rap muito forte.

Rádio Jacaré – E que influências além de Planet Hemp?

Ambos – Rage Against (the Machine), Racionais…

Diego – Racionais e Sabotage pra caralho. Muito rap, nessa época agente tava ouvindo muito rap. E na parte do rock`n roll muito Jimi Hendrix, Led Zeppelin…

Ferreira – E tinha também muita coisa acelerada e falada, tipo…

Diego – Um Sepultura. Bem forte.

Ferreira – É, exatamente. E o nosso som é nessa linha. Um negócio pesadão, falado… e as letras com conteúdo político.

Rádio Jacaré – Mas como é que isso fluiu da época que vocês eram muito mais rap pra agora? Como que isso foi acontecendo?

Ferreira – Aos poucos a gente foi descobrindo, em relação as letras, posso dizer sobre algumas que eu fiz. Começamos a usar menos palavras, mas com uma subjetividade maior. Foi o que foi encaixando. Umas ideias mais jogadas, sem se preocupar tanto com a estrutura. E foi dando certo.

Diego – Umas músicas mais rápidas, mais fortes, com riffs mais pegados, pra cima…

Ferreira – Um pouco mais de Hard Rock do que…

Diego – Ficou um rock`n roll mais cru. Ficou mais cruzão, numa pegada mais rock`n roll. E acabou se distanciando do rap, mas a influencia do rap continua latente.

Radio Jacaré – Então, antes vocês escutavam mais rap, e hoje, depois de toda essa mudança, vocês tem escutado mais o que? Que som nessa pegada de rock`n roll?

Diego – Tenho escutado bastante coisa misturada com eletrônico. Uma galera que usa uma parada digital. Um cara que eu curto pra caralho e que não é de agora, mas continua muito atual, é o Victor Rice, um cara que faz uma mixagem ao vivo de dub muito louca. Ele vai trabalhando o dub e mistura com várias coisas. Tem também o Buguinha Dub que faz scratch com fitas ao invés de discos. Acho muito louco. E muito AC/DC.

Ferreira – Apesar de mais cru, você tem escutado as coisas mais equipadas, né? Mas então, tem coisas que são meio que eternas, tipo AC/DC, Rage Against, Racionais, umas coisas que eu to voltando a ouvir, que são o mesmo som que agente ouvia no começo. E to atento também as coisas novas, to procurando saber mais do que ta rolando. E entre mil coisas, Felá Kuti!

Rádio Jacaré – Vamos mudar de assunto e falar de política. Que vocês acham dessas eleições aí desse ano?

Diego – A patifaria de sempre, né? Quero que os políticos se fodam.

Ferreira – É mais do mesmo, né? Na história recente do país, o PT foi o que deu mais esperanças pra mais pessoas de que as coisas podiam ser diferentes, aí eles chegaram lá e se mostraram igual ou pior, ta ligado? Com tudo. Pior em alguns aspectos, levemente melhor em outros…

Diego – O que eu acho estranho é esse negócio de você ter que escolher entre dois partidos. Acho isso estranho pra caralho, você ser livre pra escolher entre A e B. Só isso, ou você é A ou você é B. Você não tem opção. Você até tem, né? Você pode votar nulo, pode se abster e dizer “eu não me culpo por isso”. Eu voto nulo e pra mim, todo mundo deveria votar nulo. Mas cada um pensa de um jeito. Não tenho coragem de dar meu voto pra um maluco que eu não acredito.

Ferreira – Na verdade, isso faz um pouco de diferença, mas é pra você, tá ligado? Você não precisa partir pra alguma porque a maioria da votando.

Rádio Jacaré – E a polícia?

Diego – Ih mano, polícia é embaçado. Hoje em dia eu não tenho mais tanto problema com polícia, ta ligado? Mas passei um bom tempo da minha vida tendo. Hoje em dia ta mais leve, consigo me safar mais, não causar tanto, mas porra, graças a deus.

Ferreira – A polícia é a ordem e a força ali, né? E isso daí é foda. Tava pensando nisso hoje. Fui lá pro centro e tinha muita polícia. Lá perto do fórum e tal. Em todos os lugares. Caricato esse momento, passou uma viatura da GCM (Guarda Civil Metropolitana) com a sirene no talo, no meio da praça da Sé, no meio das pessoas. Aí eu fiquei pensando se tem a necessidade de existir polícia, no geral, saca? Lógico que uma hora ou outra você precisa de algo ali que faça esse papel, ficar 100% sem policia é complicado, mas digo, se existe a necessidade dessa Política da Polícia, entende? Que precisa ser violento, chegar abordando já, mão na cabeça e tudo. Não precisa, sabe? Essa desculpa de que não sabem com quem tão lidando é furada. Eles recebem treinamento pra quê, porra? Eu fui numa palestra lá na PUC-SP de um policial que falou “eu sou professor de direitos humanos lá na PM, cheguei pros meus alunos e mostrei uma foto que era um cara pegando o outro pelo pescoço. Um policial pegando um negão pelo pescoço. E o cara esganado. E ao perguntar pros alunos o que era aquilo, responderam ‘excesso de poder’, ‘uso desproporcional da força’ esses termos jurídicos, assim.” E aí ele mostrou o que era: a capa da Veja e era o cara que matou o menino (João Hélio) no Rio de Janeiro arrastado. E o cara falou “aí eu expliquei pra eles que em muitos momentos aquilo não é excesso, nem abuso”, e quando eu perguntei pro cara se eles não recebem nenhum treinamento pra lidar com essa situação, o cara respondeu “é, então, veja bem…”. O famoso “veja bem”, né? Sem nenhuma resposta satisfatória.

Rádio Jacaré – Por falar em política da polícia, faz um tempo que tão saindo até filmes sobre ela. Tropa de Elite no Rio, e agora um sobre a Rota. E eu soube que vocês foram chamados pra compor uma música pra trilha sonora do filme da Rota, conta aí como que foi essa fita.

Diego – Uma mina que eu conheço é da produtora que tava fazendo a filmagem, procurando trilha e tal, e me perguntou se a gente não queria fazer uma musica pra eles. E a gente não fez, falamos “ah, nem vamos fazer, foi mal”.

Ferreira – Que é daquele filme lá “Rota comando”…

Diego – Tipo uma Tropa de Elite pra polícia de São Paulo.

Ferreira – É um filme B total, muito thrash. É a pior atuação que eu já vi em todos os tempos. Aí eu fui prestar atenção na música pra ver qual é que ia ser, e só pra não fugir do padrão, a musica também era horrível. E resolvemos que não. A gente ficou numa dúvida cruel, até porque a ideia era pintar uma grana.

Diego – É, a ideia era pintar uma grana. Aí a gente falou “mano, vamo fazer? Ah, vamo fazer, vamo fazer”, e acabamos fazendo uma música contra a Rota. Não conseguimos fazer uma a favor.

Ferreira – E mesmo que você quisesse falar bem da Rota, você falaria do quê?

Diego – Eu vi uma música tipo gibi, sem querer menosprezar a musica mas era tipo gibi. Era uma historinha de como os heróis da Rota iriam salvar a sociedade…

Ferreira – Tem uma cena que se passa nos ataques do PCC, e tá o Conte Lopes fazendo o papel dele mesmo, atuando. E ele ta lá no gabinete e daí vê os ataques na TV e diz “isso não pode continuar”, daí pega o telefone e ordena “todas as tropas pra rua!”

Diego – Daí começa uma puta música…

Ferreira – Daí ele chega, da um puta discurso nacionalista imbecil, tipo, “vamo lá”, e eles foram lá, e acontece o que aconteceu, mataram um monte de gente sem a menor distinção. E aí entra o lance de que “certas coisas não são abuso de poder”, e a sociedade sedenta de sangue vibrando com a Rota. É uma bela propaganda. E em escala global, né? Por mais redundante que seja.

*E para quem se interessar  em conhecer o trabalho da banda, visite: http://www.myspace.com/cabecavudu

*Baixe a demo SUJEIRA aqui:

http://www.4shared.com/file/WlyjfRYS/Cabea_Vudu_-_Sujeira_-_radioja.html

*Em breve, primeiro podcast da Rádio Jacaré com o audio da entrevista. Fique ligado!


Deixe um comentário so far
Deixe um comentário



Deixe um comentário